CHUVAS: Um drama que se repete!
(Acompanhe o sofrimento de inúmeras pessoas em Pernambuco)

(O blog Fala Meu povo! fez uma reunião dos fatos mais tristes para deixar você por dentro da situação caótica em que se encontra muita gente em nosso estado.)

Nem governo, nem população. Nenhuma das partes aprendeu a lição da enxurrada que varreu a Zona da Mata no inverno do ano passado. Essa não é a impressão, mas a certeza que se tem ao visitar municípios como Barreiros e Palmares. Mesmo sabendo do perigo, famílias inteiras voltaram para áreas de risco mais uma vez inundadas. Da parte dos administradores públicos faltou executar promessas, fiscalizar irregularidades e socorrer quem precisa de ajuda.
Nesta quarta-feira (4), Barreiros, a 108 quilômetros do Recife, continuava debaixo d’água. Em ruas como a Alceu Teles, no bairro Granja Itaperibu, só é possível circular de jangada. O servente Jorge Nascimento, 53 anos, construiu uma para resgatar seus conterrâneos ilhados. Famílias que já haviam perdido suas casas retornaram sem qualquer impedimento para as margens do Rio Una. “No ano passado caiu a parte de trás. Eu ainda estava ajeitando ela e já veio a cheia de novo. Só deu tempo de tirar as roupas”, disse a professora Rita Elisa de Aguiar, 42.


Esta é a mesma situação do vendedor Manoel Genário Oliveira, 30, que tem uma casa na Rua Rio Una, na margem do rio homônimo que batizou a via e, mais uma vez, tentou retomar seu espaço. O rapaz já havia enfrentado as cheias de 2000 e 2010. Mas se recusa a sair.

O abastecimento d’água foi interrompido desde ontem e a energia foi cortada hoje. A segurança no município está por conta de 15 policiais militares que fazem uma barreira na entrada da cidade. Sem barcos, não têm como circular pelo município. Assim, uma série de saques acontece sem que nada aconteça. Até o final da manhã não havia sinal de qualquer outra ajuda. O aviso de que o nível da água estava subindo foi dado pela igreja e pelas rádios. “Defesa Civil e Corpo de Bombeiros não apareceram. Dizem que tem um morto na Vila Tibiri, mas ninguém tem certeza e não tem como chegar lá”, diz o comerciante Alberto Silva, 28.


ACAMPAMENTOS - O prefeito Antonio Vicente de Souza Albuquerque (PSB), reclamam os moradores, sumiu. “Ele desapareceu. Não ajuda em nada”, aponta a dona de casa Josilma Maria da Silva, 38. Ela faz parte de uma das cerca de 50 famílias que, sem ter para onde ir, se apinham na estação rodoviária da cidade. Lá não há comida, bebida, higiene ou privacidade. Animais, crianças, homens e mulheres suportam-se no mesmo espaço com os poucos objetos que conseguiram carregar. “Ano passado a gente perdeu tudo. Fui para o acampamento e saí de lá faz dois meses. O pessoal da Operação Reconstrução botou a gente em outra casa, mas a água cobriu tudo”, lamenta Josilma, que divide um colchão com o marido e dois filhos, um de 6 e outro de 18 anos.

A desempregada Eliane do Nascimento, 37, não consegue segurar a emoção ao falar da própria situação.

Outra desempregada, Lindinalva Martins de Lima, 32, conseguiu comprar um pacote de macarrão instantâneo e o distribuiu entre ela, o marido, o irmão, os cinco filhos e uma vizinha.
No mais, as famílias alojadas na rodoviária dependem da benevolência de quem está numa situação melhor. Enquanto o Blog de Jamildo estava no local, chegou o industrial Carlos Artur Soares de Avellar Junior, 38, com alguns pacotes de garrafas de água mineral. A cena que se seguiu lembrava mortos de sede no deserto. “O pessoal está muito carente aqui. É de apertar o coração. Eles precisam de água, a coisa mais básica que existe. O poder público não chega”.


As barracas nos acampamentos que haviam sido removidas no início do ano voltaram à cena. “A água subiu e armamos novamente as barracas que estavam guardadas com a gente, porque a água subiu e cobriu a casa”, contou a doméstica Luciana Gomes da Silva, 29 anos, que divide o espaço com o marido e três filhos. A família conseguiu trazer comida de casa, mas ela deve acabar em quatro dias.
As casas 950 casas prometidas pelo governo do Estado estão sendo construídas na Fazenda de São Francisco, na margem da BR-101. Cerca de 70 imóveis estão quase prontos, faltando instalar coisas básicas como portas e janelas.


PALMARES - Já no município de Palmares, a 120 quilômetros da capital, a quarta-feira foi dia de limpeza. A água, que ontem atingiu quase dois metros de altura, começou a baixar ainda na noite de terça. Restou lama e muita sujeira.


Jeane Ferreira, 41, começou a limpar a casa dela às 7h. Por volta das 14h15, ainda não estava nem perto de terminar. E a casa dela não está tão perto do Rio Una e ainda por cima é elevada um metro do chão. Mesmo assim, a água chegou.
“Subiu rápido. Foi a mesma agonia da outra vez (2010). Os vizinhos que me ajudaram a tirar as coisas daqui para não perder o pouco que consegui recuperar no ano passado. Está tudo no primeiro andar do vizinho. Só vou trazer de volta agora o fogão que é para comer. Até junho, quando começa do inverno de verdade, vai ser essa agonia. Só vai dar para voltar a vida normal quando o inverno acabar”, diz a mulher que não dorme desde a noite de domingo, quando começou a chover.


Num dos maiores mercados da cidade, uma das cenas mais chocantes da cheia do ano passado se repetiu. Crianças e adultos se amontoavam para pegar comida que não serve mais. É o retrato do horror que resume um drama do passado, revivido no presente e que pode ser visto mais uma vez num futuro muito próximo.

falameupovo.blogspot.com

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